Talvez eu tenha muito a dizer, mas o medo me permite apenas observar a
tempestade que se anuncia. Não há nada
inédito ou extraordinário no que está acontecendo. São apenas pés errantes
dançando, perdendo o equilíbrio entre músicas, sonhos e saudades.
Ao som de Djavan, Se acontecer
Inês havia se acostumado ao peso das angústias e
frustrações. Já não sorria mais com a alma, nem dançava quando sua canção
favorita tocava. Perdeu a vontade de mostrar sua voz. Não havia mais melodia em
sua fala. Estava esquecida entre o som do despertador e o boa noite do
noticiário. Não escrevia cartas, nem cuidava de suas magnólias. Sua cor de
fogo, que antes incendiava todos a sua volta, estava repleta de cinzas que
traduziam a alma de Inês. Ela, que sempre fora uma
mulher tão repleta de sons, sorrisos e amor, havia se tornado alguém habitado
por saudades e incertezas. Quando Henrique chegou ela não sorriu. Não
mergulhou no verde de seus olhos buscando novamente ter esperança. O doce sabor
de seus lábios não quis provar, nem mesmo aceitou o toque de seus dedos em seus
cabelos. Fugiu daquilo que se escondia atrás de cada sorriso dele. O que havia
por atrás de cada ligação, abraço ou comentário sobre Djavan era o que lhe
apavorava. Inês já havia pertencido a alguém que não soube ser dela, já
conhecia os caminhos até a paixão. Henrique descobriu no olhar de Inês
que o amor nem sempre chega na hora certa para os dois. A dor que ela sentia
não o afastava, mas fazia buscar ser cura, ser tempo, afago que o coração dela
tanto precisava...
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