“Eu não
quero promessas. Promessas criam expectativas e expectativas borram maquiagens
e comprimem estômagos.” Tati Bernardi
Ao som de Que nem maré - Jorge Vercilo
Desde que me entendo por gente com sentimentos, sempre gostei de
homens bem mais velhos (Freud explica). Nunca me senti atraída por músculos e
“pô, gatinha, qual é a boa?” Inteligência, bom humor e alguns cabelos brancos
sempre me chamaram atenção. Com o Sr.H.H.¹ não
foi diferente. Fazíamos parte do mesmo grupo de estudo e sua impulsividade e
senso de humor aguçado me chamaram atenção. Apesar de ser mais experiente que
eu, parecia um menino. Eu jamais havia encontrado
olhos mais sinceros e sorriso mais fácil. Tornei-me uma espécie de rêmora
sentimental depois que ele se apaixonou por minha melhor amiga, já que ele
parecia curtir mulheres mais experientes. Alimentava minha paixão com migalhas
de atenção. Estávamos sempre juntos, sempre os três. Fui álibi, desculpa, mas
nunca o motivo dos encontros. Foram meses desta maneira. Um dia o romance entre
eles acabou, as amizades foram interrompidas pela distância, e a vida seguiu
para todos nós. Perdemos o contato e fizemos nossas próprias histórias.
Meses atrás, enquanto
passeava entre as gôndolas de um grande supermercado, nos reencontramos. O tempo continuou sendo
generoso com ele (ô...), mas o sorriso mudou, perdeu alegria. Trocamos algumas
palavras, gestos educados, e uma imensa sensação de desconforto. Esta semana
recebi um e-mail dele (sim, meu e-mail é o mesmo desde que a internet passou a
fazer parte da minha vida) dizendo que agora que está vendo os 40 com
outros olhos, sua reflexão habitual de fim de ano mudou um pouco, dedica-se
a corrigir os erros do passado, ao invés de só tentar acertar no ano seguinte.
Em meio a estas reflexões, acabou lembrando nosso rápido encontro e me fez
a seguinte pergunta:
“e se tivesse sido você, a grande paixão da minha vida, ao invés dela?” A
resposta foi simples e direta: “eu
teria percebido logo a verdade
sobre grandes paixões – elas acabam e deixam grandes feridas. Maiores que os
sentimentos, eram as expectativas criadas, e dor seria inevitável no fim.” Não recebi nenhuma resposta e acredito
que não virá. Provavelmente ele esperava que eu dissesse que teríamos sido
‘felizes para sempre’, mas já tem um
tempinho que eu não acredito nessa história, rs.
Pois é, aprendi com o
passar do tempo muitas lições, entre elas, não
criar expectativas sobre as pessoas ou sentimentos (esse ano eu tive uma
espécie de “reforço positivo” sobre esta lição). Parece melancólico demais para
ser publicado no blog numa data em que todos estão renovando suas esperanças
para o próximo ano, refletindo sobre o que se passou, mas esta é uma de minhas
metas para 2011: acabar, definitivamente, com as expectativas que crio
sobre as pessoas, me preservar mais e me decepcionar menos.
Que amanhã possamos
modificar nossas histórias, colocar em prática o que aprendemos com os erros
cometidos ou observados, caso contrário, terá sido em vão tanta reflexão sobre
o ano que está indo embora!
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1 - Referência ao
professor Humbert Humbert, personagem do livro Lolita.