Para ler ao som de Please forgive me
“Querida, nem Jesus escapou de ser traído, porque
você seria poupada?”
Esta
frase não foi bem o consolo que ela desejava ouvir de mim, mas foi a única que
consegui dizer ao conversarmos sobre o que havia acontecido. Não sou tão ruim quanto pareço, acho até que sei preservar bem algumas amizades, mas ando prática demais
nos últimos tempos. E em meio a tanta praticidade, tive que lembrá-la que para
toda traição existe o perdão, e esta era uma escolha que somente ela poderia
considerar. Algumas traições são mais dolorosas, outras nem tanto. Não importa
qual tenha sido, o tempo é o grande amigo, o maior e melhor Band-Aid que
existe.
Se traição
não se limita a um par de chifres, posso dizer que um amigo traiu meu coração
mais do que minha testa. Foi há tanto tempo (nove anos) e já nem consigo lembrar
todos os detalhes do que aconteceu, mas lembro-me perfeitamente todo o bem que
ele me fez (antes da canalhice). Sua lealdade sem medidas no momento mais triste e doloroso da
minha vida (quando meu avô faleceu). Não esqueço as conversas que sempre me
faziam questionar as escolhas que estava tomando, e a sinceridade absurda, quase
agressiva que norteavam nossa amizade. Num determinado momento ele errou gravemente (!!!!), e eu não tinha outra opção se não excluí-lo da minha vida. Quando ele tentou explicar o que havia acontecido, não
permiti que se aproximasse (se bem me lembro, fiz uma cena digna de novela das
oito). Nunca ouvi o lado dele, nunca soube exatamente o que o motivou a ser tão
cruel comigo. Hoje, um pouco mais madura (mas nem tanto assim), lamento nunca
ter dito que apesar de toda e qualquer dor que tenha me causado, a lembrança
mais latente que tenho, é do amigo que pedalava para me ver todos os dias, por
várias semanas enquanto o luto me fazia sofrer.
O
tempo foi um excelente curativo para mim. Permitiu que a mágoa dissipasse e
ficassem apenas as boas memórias. Não sei se com minha amiga será assim. Talvez
ela precise de muitas conversas, pequenas mudanças e alguns calendários para
conseguir perceber que coisas boas aconteceram entre ela e o (ex)marido. Hoje a
dor está cortante, as lágrimas descem ferozes e ignora que o perdão é a maior (ou seria a única?) liberdade
que precisa.
Enquanto escrevo algumas perguntas - sem resposta - ficam rondando minha mente: quanto tempo é necessário
para amenizar o sofrimento causado por uma decepção, uma traição? Será que o
tempo é realmente o melhor dos remédios e a única solução para as dores “incuráveis”
da vida adulta?
Não
seria difícil encontrar o amigo que perdi. Moramos na mesma cidade, temos
amigos em comum e com um telefonema talvez tudo fosse diferente, mas não é
preciso. As explicações e justificativas não são necessárias, não vão mudar o
que passou ou o que nos tornamos. Se algum dia eu tiver coragem e decidir ir ao
trás deste telefonema vai ser pra dizer que ... Bem, se isto algum dia acontecer e o blog ainda existir, eu conto como foi o diálogo.
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Retomando o hábito desafiador da escrita.