Para ler ao som de Metade, Adriana Calcanhoto
Já faz um tempo que eu não escrevo como antes.
Antigamente me entregava sem reservas as ideias, escrevia sem pudores, abria
espaço para o meu eu-lírico e as palavras simplesmente seguiam seu curso
natural. Existe uma face da minha alma, aquele lado B que eu procuro manter sob
controle, que parece ter deixado a minha escrita mais pesada, menos intensa,
menos eu. Ataques de pânico, crises de ansiedade e, incrivelmente as ideias se
tornaram pesadas. Antigamente permitia que as palavras chegassem a mim calmamente
enquanto tomava meu café da manhã ou mesmo em uma conversa despretensiosa. Hoje
elas tentam flertar comigo enquanto estudo ou faço um novo relatório, quando isso acontece, faço todo o possível
para que se calem. Se é inevitável rascunhar, corro para o papel ou para frente do notebook a
espera que volte a ser como antes, fico horas escrevendo e apagando, mexendo
até que tudo que eu escrevi vá parar na lixeira.
É preciso voltar a caminhar, voltar a escrever sem medo, me
reencontrar e permitir ser leve outra vez. Como? Como? C-O-M-O ? Isso
simplesmente me tortura! Por mais que eu consiga entender que a vida está em
escala Pantone, em alguns momentos ainda sinto falta do “preto e branco”. Ainda
busco algumas respostas-com-Rivotril (aquelas com efeito calmante), ainda
permito que as dúvidas me façam companhia até o nascer do sol.
A minha vida segue confusa, mas o pior já passou.
Mudei muito, é verdade. Mudei a forma de me ver, a forma de me relacionar com
as pessoas, meus números de telefone e o hábito de abraçar. Não é fácil ser
forte sem endurecer. Endureci. Não foi fácil levantar após tantos tombos. Sim,
me perdi, mas ainda quero voltar a me reencontrar em cada texto. Quero visitar
as palavras e me encontrar nas sentenças. Quero voltar apenas a me construir e
quem sabe, me aventurar a sonhar novamente com a escrita...
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