Ontem, pouco antes das 6h um homem morreu. Não o
conhecia, mas acompanhei a descoberta de sua morte. Parou o carro no sinal (semáforo/farol)
e sua vida não seguiu mais. Percebendo o que havia
acontecido, um pequeno grupo
pediu ajuda da Polícia. Abriram o carro e constataram a morte daquele homem. O
fato despertou a atenção daqueles que viajam comigo no ônibus, principalmente,
porque a única certeza que temos é da limitação e brevidade de nossos dias. Não
há beleza ou relevância ao adiar o amor, uma declaração ou reconciliação. Não
existe justificativa em deixar para depois um gesto de bondade ou para encarar
o que nos atemoriza. Adiar os melhores dias de nossas vidas porque não temos
tempo, é desperdício. Os melhores dias são todos os dias. Inclusive aqueles mais
difíceis. Um mergulho no mar, caminhar de mãos dadas, rir até a barriga doer, sentir
o cheiro da chuva molhando a terra, observar o sorriso de uma criança, dançar
na chuva ou tomar sorvete de creme. Falar com aquela pessoa querida que está
distante, seja por telefone, e-mail, carta ou batendo em sua porta. Desejar bom
dia, boa noite ou apenas sorrir com os olhos. Escolher o lado bom da vida e
esgotá-lo sem medo. Largar a correria falando sozinha e entender que falta de
tempo é só uma desculpa que inventamos e aceitamos. Falta de atenção é energia
desperdiçada em um dia/semana/mês/ano/vida que acabou. É cedo para planejar previdência
privada, mas tarde demais para deixar de sorrir, de abrir os braços ao vento. É
tarde demais para não viver plenamente, porque certo, concreto e breve é a morte.
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