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Pire!

Para o amigo que me fez rir um milhão de vezes, num só dia!




"Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público. Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento. Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens. Não seja sério; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Não atravesse o corpo na faixa de segurança. Grite para o vizinho que você não suporta mais não ser incomodado. Use roupas com alguma lembrança. Use a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um bilhete de trem. Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco, ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade."

Fabrício Carpinejar

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Um texto bem escrito claro, gosto muito de Fabrício, porém não posso concordar com tudo. Quando se já passou por certas situações e saiu ileso e foi uma boa história pra rir depois, parece valer a pena repetir a dose como um conselho de vida. Cada um tem a sua vida e a sua dose de loucura e sua própria medida para tal. Eu cometi os meus erros sobrevivi a eles chorei por eles, e ri disso depois, porém em nada, nunca eu concordaria que é preferível a coragem da mentira à ccovardia da verdade. A mentira me trouxe problemas que a verdade não traria e ela por si só, mesmo que dura e amarga, tem salvo conduto para o verdadeiro perdão. Então, eis aqui minha humilde opinião. #curtimuitonão.

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  3. oi aninha minha amiga, muito obrigado...rs realmente não podemos deixar de arriscar algumas coisas em nossa vida para la na frente não olhar para trás e se arrepender por nunca ter tentado. mesmo com tds os riscos sempre vale apena se arriscar... costumo dizer que é como se vc fosse saltar de paraquedas sem paraquedas... mas a diferença esta em você mesmo... salte tendo a certeza que você não vai morrer quando chegar no fim agora se quando você saltar você tiver duvidas se vai sobreviver ou não, te dou um conselho... NÃO SALTE!!! ...nando

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