segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A burca do Ocidente


Estou lendo O livreiro de Cabul e assim como outros títulos que falam sobre a vida afegã, fico fascinada e igualmente chocada com as diferenças culturais, de sobremaneira o uso da burca.
No Afeganistão, a burca começou a ser usada pelas mulheres de um rei. Diz a história que elas eram tão formosas e bem tratadas, que o rei temia que acabassem enfeitiçando outros homens. Por ciúmes, ele passou a comprar os mais belos e caros tecidos para preservar os encantos de suas esposas. O islamismo trata o véu como uma forma de guardar a beleza dos cabelos de uma mulher somente para seu marido. Para uma mulher como eu, nascida e criada segundo os valores ocidentais, entender tais práticas exige muito esforço. Nós ocidentais, consideramos o uso obrigatório da burca, ou véu, uma agressão, mas em tais culturas são meios usados para resguardar as mulheres.
No Ocidente a burca é usada de maneira errada. Sim, nós usamos burca no Ocidente! Enquanto no Oriente escondem os encantos de uma mulher, aqui escondem quem somos de verdade! Encobrimos atitudes que seriam reprovadas por uma sociedade que aplaude o que é falso. Uma mulher bem resolvida, que não tenha medo de expressar opiniões ou falar de assuntos inicialmente masculinos, assusta grande parte dos homens. Por conta disso, algumas aceitam esconder quem são em burcas invisíveis, usadas apenas para evitar o confronto com aqueles estão a sua volta. Esta sociedade hipócrita subjuga um povo, mas censura relacionamentos em que a mulher é mais velha, ou mais bem sucedida do que o homem. Rotulou de terrorista todo homem que tenha a barba com um punho de comprimento, mas exige uma mulher débil, sem expressão ou ideia divergente da sua. Aceitamos o conceito em que a mulher deve parecer eternamente indefesa, pura, jovem e bonita, enquanto o homem deve ser um semideus: forte, másculo e desprovido de sentimentos.
Não estou defendendo o feminismo radical, em que mulheres colocam os seios de fora em protestos constrangedores. Eu defendo que nenhuma mulher sinta-se desvalorizada porque não casou aos 30, não tem filhos ou não vista 36. Defendo que tenhamos liberdade para mostrar o que somos, em nossa essência: fracas ou fortes, espontâneas ou introvertidas, impulsivas ou recatadas... Que não tenhamos mais medo de andar sozinhas nas ruas, de pegar condução a noite, que não tenhamos medo de nos mostrar fortes.
Sempre iremos nos deparar com situações/pessoas que nos imponham uma "burca" para esconder o que na verdade somos, pensamos, desejamos. Em nome de convenções sociais acabamos por aceitar tal imposição. Sendo assim, a burca que a mulher afegã usa sob a desculpa de protegê-la é, em minha opinião, mais digna do que a que o Ocidente me obriga a usar, pois a burca de tecido esconde o rosto, enquanto a que me obriga a ser alguém diferente do sou, tenta moldar a todo custo o meu caráter.

6 comentários:

  1. Tudo o que fere a nossa dignidade é mau. Tudo o que nos impede de sermos nós mesmas é mau.
    Devemos sempre ser quem realmente somos ou desejamos ser. Adorei o texto.Bjs

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  2. Também concordo. Hoje em dia muito daquilo que falamos e agimos é resultado dessa "burca invisível".

    Mas, até que ponto todos aqueles que tem essa consciência, realmente querem se livrar dela? Pagar o preço de ser você mesmo?
    Penso que muitas vezes nos acomodamos nesse estilo de vida por preguiça de uma mudança que requer esforço e talvez até mesmo medo da reação das pessoas.

    Acho, na verdade que todos de uma certa maneria querem ser aceitos e isso os obriga a fingir, quer seja no trabalho, faculdade, igreja, na família e etc.

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  3. Vc expressa os seus verdadeiros sentimentos através desse Blog!

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  4. Olá, Ana! As questões abordadas em seu texto são muito interessantes e merecem o devido destaque na nossa sociedade. No Afegão as mulheres usam a burca como símbolo de proteção e resguardo de sua aparência, oprimindo olhares maldosos e sensuais de homens que não sejam seus cônjuges. Mas é importante informar que elas sofrem muitas repreensões, humilhações, além de serem subjulgadas em suas comunidades. Há um filme que vi que merece ser citado "Em busca da liberdade". Filme baseado em fatos reais de uma afegã que busca azilo político nos EUA, devido seu irmã ter sido ser perseguido e morto pelo cruel regime do Talibã que domina seu país. ela, então, conta com a ajuda de uma advogada americana para que consiga permanência no país norte-americano. Uma história dramática sobre intolerância e aceitação, além de revelar em parte a condição da mulher na sociedade atual. Vale apena ser visto. Vale citar que a comparação da buca"invisível" , mas que é real em muitas pessoas também reflete aquilo que muitas pessoas buscar reprimir em si mesmas, sufocando sua verdadeira identidade como no caso dos super-heróis mascarados que conhecemos...
    Beijos!
    Verinha.

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  5. Ei Ana,
    O post caiu como uma luva.
    a sociedade em que vivemos nos impõe essa burca invisível e é difícil viu!
    A gente tem que ter muita força pra ficar bem e sermos quem queremos ser e não quem a sociedade deseja que sejamos.
    Um bom dia e um ótimo final de semana linda!

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  6. Amiga, deixei um meme pra vc no meu blog, passa la pra pegar... bjooo



    Silvana

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