Você pode ler ao som de 17 dejaneiro – Os Arrais
Fui
criada para ser independente. Nunca depender de ninguém, ser autossuficiente,
capaz de resolver todo e qualquer perrengue. Por conta disso, reconhecer que
preciso de ajuda sempre foi (e ainda é), bastante complicado. Há meses eu venho
sofrendo dores terríveis, sem jamais conseguir pedir socorro. Perdi meu chão, tudo
o que eu considerava concreto, simplesmente ruiu. Achava que em algum momento
eu conseguiria me reerguer sem precisar admitir fragilidade, pedir ajuda.
Fiz o caminho inverso de quem precisa de cura: ao invés de buscar socorro,
segurava as minhas feridas com as mãos e escondia o que estava me matando com
qualquer coisa que pudesse anestesiar o que estava sentindo.
Essa dor durou mais do que eu poderia imaginar. Aprendi que ela não vai embora até que você seja capaz de olhá-la de frente,
até que entenda o que está causando a ferida. Não é qualquer olhar. É o olhar
direcionado e acompanhado por Aquele que tem o manual da sua alma. Fui
confrontada. A dor que me dilacerava era causada pela frustração, pela
decepção, mas principalmente, por ver desmoronar o meu castelo de areia. A dor ainda é latente,viva, diária, mas desta vez, dói para não doer nunca mais.
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Querer
exercer o controle da minha vida, achar que eu sou autossuficiente, que sou
capaz de me erguer sozinha, só fez com que as feridas aumentassem. O que
não é tratado, te consome, domina e mata. Para que não fosse tarde demais,
houve o confronto. Descobri que o caminho para a cura passaria por reconhecer o
que causou tanto sofrimento. Ao olhar para mim, guiada pelo autor da minha
vida, entendi que a dependência de Deus precisa ser genuína, não apenas da boca para
fora. Essa dependência produz em mim a consciência dos meus erros e também das
minhas necessidades. Necessidades estas que vão muito além do que eu julgava
precisar. São necessidades reais, eternas, jamais saciadas por aquilo que o
homem pode roubar ou tocar. Minha jornada para a cura teve início. Este é só o
primeiro passo: reconhecer que preciso de ajuda e busca-la, no lugar certo.
Voltei ao meu jardim secreto, estou tirando as folhas secas, as pedras, e
cuidando do lugar onde encontro remédio para minha dor.
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Tenho
sido sustentada até aqui por pessoas que intercederam e sofreram com minhas lágrimas,
mas estou certa, de que ainda irei florescer e celebrar com esses amigos, a
primavera da minha vida.